03 março 2008

via ctt

Por força do progresso e do mundo tecnológico, que nos dias que correm são conceitos em parceria, foi necessário fumar três cigarros em lugares proibidos para desembainhar esta estória de hábitos e devaneios antigos, pegar numa caneta BIC e a escrever.
Vem a reflexão que se segue a propósito de um e-mail que recebi de um amigo que, por força das suas convicções, gostava de receber religiosamente o carteiro pela manhã. Gostava de receber os bons dias e de lhos retribuir, gostava da expectativa e do nervoso miudinho que sentia quando o via aproximar-se dizendo-lhe – Senhor Vítor, tenho aqui a sua correspondência. Muitas vezes ficava na expectativa louca e sonhadora de receber a carta que mudaria a sua vida, ou como acontecia por vezes, receber uma confidência mais profunda escrita a altas horas e colocada pelo remetente no correio logo pela manhã.
No e-mail que o meu amigo me enviou e onde recusava solenemente uma inscrição na ViaCTT, adivinhei-lhe a tristeza e a frustração de o carteiro já não aparecer tantas vezes e, de outras tantas, já nem ter tempo para o receber. Também ele se habituou, resignado, às virtudes do progresso e foi-se contentando em receber envelopes timbrados do cetelem, uma ou outra conta da electricidade ou do telefone. Todo o mundo, e até os bons amigos, se tinham rendido ao e-mail. Ele próprio ia escrevendo as suas mensagens telegráficas num português descuidado e sem alma, no seu HP de última geração. O que é evidente é que lhe faltava o cheiro a papel, o doce deslizar da faca pelo envelope, para depois se deliciar com as notícias que vindas de onde viessem constituíam para si sempre uma surpresa.
Hoje, olhava os monitores com idêntico entusiasmo e regularidade, mas sem a intensidade e sem a surpresa de outrora. O Gmail, que ele claramente assumia ser uma grande invenção, ia a pouco e pouco esventrando-lhe a alma e afastando-o da importância que sempre teve para si receber uma carta, daquelas escritas à mão e a cheirar a verdadeiro papel e tinta BIC.
Caro amigo, ainda bem que me alertas, pois sei agora que foi num momento de fraqueza que resolvi inscrever-me na ViaCTT para ganhar um iPod. Logo eu que só ouço música no carro, e de preferência em viagens superiores a 50 Km, logo eu que não suporto auscultadores nos ouvidos, porque acredito que me deformam o jeito de olhar para o mundo. Este olhar deformado, que tanto critico ao mundo, entrou por mim adentro nesta vontade desalmada de ter um iPod inteiramente gratuito. Logo eu que prezo o silêncio e tenho dificuldade em entender as coisas na mais absoluta cacofonia estéreo ou mesmo no mais consensual som surround.
Resolvi redimir-me e escrever-te uma carta, daquelas que ambos gostamos. No final, não poderei deixar de sentir o prazer de lamber o envelope e o selo e oferecer estas palavras como se fossem a coisa mais preciosa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde. Venho por este meio informar que o utilizador ViaCTT tem a possibilidade de continuar a receber as habituais cartas. Pois só se ele activar as entidades que pretende é que deixará de receber a sua correspondencia a nivel de facturação de entidades como p exemplo: edp, epal, etc. No entanto apesar do utilizador activar estas mesmas entidades este poderá receber em formato papel senão visualizar o documento na sua cx ViaCTT. O utilizador é que decide o que pretende receber em formato digital. Quando o utilizador activa a sua cx todas as entidades aderentes se encontram desactivas. Tendo o utilizador a liberdade de escolha.