11 dezembro 2010

Vai amanhecer

Ouço o ritmo particular do cortar da cebola, o som rasgado da faca e o teu olhar lacrimejante perdido na série "Bones", tu sabes... ta, ta, ta, ra, ra, ta, ta , ra, rammm...
Preparaste uma tina completa de legumes frescos para fazer a sopa que vai alimentar estes dias de reclusão, estes dias em que eu e tu nos entregamos às tarefas prazenteiras que a vida domestica nos dá. Farás um belo jantar e um amigo virá para partilhar isto tudo. Beberemos bom vinho, teremos conversas intensas e de verdade. Lançaremos ideias fortes aos quatro ventos e lá fora estará a chover. O vento fará ruídos conhecidos na nossa grande janela, que se abre para aquele horizonte, que tão bem conheces e que por acaso nem é nada de especial.
Mais especiais seremos então nós e tudo se irá concentrar no interior disto tudo. A nossa casa, as pessoas que amamos, os nossos livros, a nossa música e os nossos filmes. A Gatim estará por perto, sempre esquiva e ao mesmo tempo sempre à procura do lugar mais aconchegante, que serão os nosso braços. Sabes como é bonita, como olha para nós com ternura, uma ternura desmesurada, daquela que raramente se vê nas pessoas.

Sei que mais tarde ou mais cedo irás subir as escadas, ausentares-te para dar lugar à minha solidão e à minha vagabundagem. Eu estarei aqui, atento ao pormenor de ter que sair para não sufocar, de ter que ir para lado nenhum. Vai amanhecer já daqui a pouco e eu estarei presente para continuar.

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