17 maio 2005

H.O.L.O.G.R.A.F.I.A

Como se a vida estivesse confinada ao ambiente de trabalho. Um ecrã de 17 polegadas, bem calibradas. Os dias passassem ao sabor da organização de pastas recentes e antigas. As novidades e toda a excitação passasse pelo Outlook e o inovador gmail: o momento mais emocionante do dia. Os anti-vírus e firewalls actualizadissímos. Um novo wallpapper. Amontoar os livros em pilhas para não os ler e os sentir cada vez mais, elementos estranhos. Beber um copo de vinho tirado da silhueta permanente do monitor. Não usar canetas, lápis e outros elementos que correspondam a instrumentos da pré-história da sabedoria humana. O teclado ser uma extensão do corpo. Cada vez mais debilitado. Tudo coisa mental. Tudo direccionado à cabeça. Olhos fixados no ecrã como única possibilidade real de existir, de pensar, de saber. Ligação permanente à Internet, na banda mais larga disponível.

A quebra de rede corresponde ao corte primordial do cordão umbilical.

Percorrer páginas e páginas de informação descontextualizada e acreditar nas possibilidades intangíveis da flexibilidade cognitiva. Estabelecer comunicação via messenger e exclusivamente via messenger. Tocar o teclado apaixonadamente, suprema manifestação da sensualidade. Montar a cama mesmo junto ao desktop e acreditar que um dia o ecrã será uma tela virtual. O espaço holográfico. Um corpo em rede, em comunicação ininterrupta, em relação total com os elementos. Montar três coolers no computador e sentir uma brisa suave e quente. O marulhar permanente do seu funcionamento. As águas de um rio.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho um pequeno calo no dedo indicador da mão direita, o que tinha no dedo médio desapareceu. Ganhei-os há muitos anos quando, na primária, um castigo pôs a classe toda a fazer cópias durante uma tarde inteira. Reparei há pouco tempo que um deles tinha desaparecido. Já não escrevo à mão.

O tempo. Corre quando estamos colados ao pc. Voa quando estamos ligados à internet. Vemos informação a um ritmo alucinante, retemos o possível.
Tenho ao meu lado um livro, que não dispenso pelo menos uns minutos antes de dormir. Às vezes parecem horas.
Ainda ontem falava de não ter tempo para....
Estou com vontade de ver o mar. Aí, com um livro, e pousando o olhar de vez em quando no mar, o tempo pára.

Carla Susana

Anónimo disse...

Alguém necessita urgentemente de sair de casa e respirar...
Mas, como te compreendo...ou compreendi...

=)

paula.