26 fevereiro 2011

Primavera sem flor

Faltam-me livros e escrever sobre filmes pungentes para os quais já não tenho palavras. Faltam-me aqueles silêncios, aquele amor, aquela intensidade. Falta-me aquele excesso, aquele deslumbramento das paisagens matinais depois de longas noites acordadas. Falta-me aquela sonoridade, aquele desespero próprio das coisas inacabadas, aquela paixão dos amantes que não sabem que o são. Falta-me aquela insegurança pura de não saber. Aquela viagem que sempre quis fazer, aquele pedaço de mundo que sempre quis tocar. Falta-me disponibilidade para alguns dos lugares onde fui feliz, falta-me acreditar que existe vida para além do conforto, que existe vento, quatro pontos cardeais e primavera.
Falta-me afinal quase tudo, no momento em que talvez tudo fosse possível, assim quisesse, assim me demarcasse do balão insuflável que me alimenta os dias. Assim me renovasse.

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