29 dezembro 2009

O QUE HÁ EM MIM SEGUIDO DO QUE GOSTO

Há em mim duas viagens, dois ou três quadros paradisíacos encerrados na mala do carro
há em mim duas viagens que se digladiam e as imagens que vêm do frio e do Outono dos dias, do rosto de gente e dos ténues monumentos
há em mim céus boreais e visões caleidoscópicas, ondas de marfim e sangue, incomensuráveis vazios e desejos vadios
há em mim desejo de verdade, coisas simples e nadas que duram milénios
há em mim um clássico que me faz chorar e mundos despidos de artifício
há em mim vida, rios de saudade e de visões heliocêntricas
uma infinidade de lugares e de odores perdidos no tempo
há em mim uma espécie de vento na fronteira entre o comum o excepcional.

Olho as coisas, compreendo os procedimentos e diluo-me num espaço intemporal onde o corpo é matéria volátil, onde o coração é balão insuflável de desejos e angústias.

Há em mim vazio, não saber e não querer
há e mim despeito , ousadia e perdição. Uma esponja sensorial insondável
há em mim desregramento e tatuagens perenes
há em mim coisas que não compreendo, seres heróicos, mortos-vivos e eclipses lunares
há em mim espaço para qualquer coisa que ainda não vivi
há em mim uma toupeira cercada de terra , de escuro e estonteante luz crua
há em mim paisagens humanas e naturais que me arrebatam, enquadramentos de existir, coisas simples de doer, silhuetas espectrais, fronteiras para lado nenhum – sonhos irrealizáveis.

Um pouco de azoto e verdade é tudo que de essencial necessito para viver.



Gosto de seres poéticos, de cabelos enrolados no vento, de histórias de amor impossíveis e de devaneios estéreis
gosto de pensar em nada, das nuvens rápidas a atravessar os montes e de folhas outonais suspensas no ar
gosto de enquadramentos fotográficos arrebanhados ao quotidiano
gosto dos sorrisos suaves que me olham e gosto também de olhar o sorriso escondido dos que se pensam sós
gosto dos tiques, das manias e da paranóia
gosto de observar e de inventar histórias mais ou menos falsas acerca de tudo
gosto de me lembrar do que sonho e das manhãs solares
gosto de decidir partes importantes do dia no chuveiro matinal enquanto a luz entra difusa pela clarabóia
gosto dos insatisfeitos que têm um brilho abrangente no olhar
gosto dos inquietos, dos libertinos, dos espontâneos e dos noctívagos
gosto da transparência, dos palhaços e da autenticidade
gosto dos que são capazes de viver cada dia como se fosse o último
gosto dos que riem, dos que choram, dos que se emocionam com qualquer coisa
gosto de ouvir gente simples a pensar em voz alta.

Gosto de verdade não sabendo muito bem o que isso é.

1 comentário:

margarida disse...

Há em mim qualquer coisa que gosta da essência destas palavras. Copiei-as para o meu caderno.