O carro deslizava livremente sobre o alcatrão estranhamente prateado.
Mantive o olhar na paisagem semi-obscurecida e sobre o branco fascinante da neve pontuado por cinco ou seis focos laranja.
Estava um silêncio intemporal e o meu olhar pregado no horizonte inefável - viajava ao ralenti num silêncio suave, na luz ténue e no Porto doce e amendoado.
Às três da manhã é na noite profunda e solitária que se congeminam os mais ousados rituais e as mais ternas existências. Na névoa, no escuro e no silêncio viajo no mundo dos homens sem que o compreenda perfeitamente.
O carro entretanto continuava a deslizar suave e livre num silêncio mágico.
O meu olhar estava fixo nos focos de luz laranja perfeitamente alinhados do outro lado do monte estranhamente branco.
O gato preto atravessou a estrada, lento e perturbante e o seu olhar sinistro reflectiu luz no meu olhar igualmente intimidante. O olhar sempre nos dói ou nos fascina, tal como o monte branco assinalado por cinco ou seis focos de luz laranja perfeitamente alinhados do outro lado do monte.
O homem saiu do carro aturdido, e eu voltei à terra e o escuro apaziguou-me.
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