06 dezembro 2006

02 - OLHAR PARA DENTRO

Vivemos juntos há três meses e posso dizer que já tivemos momentos felizes, já partilhamos muitas coisas, no entanto, não posso deixar de sentir que sempre me viste como uma estranha. Nunca te adaptaste realmente ao facto de termos que partilhar um mesmo espaço. Ao longo do tempo fui sentindo que as tuas ausências eram cada vez mais prolongadas - chegavas a dormir fora sem avisar. Via o tempo passar e sobretudo dormia muito.

Hoje por sinal, acordei como se me tivesse visto por dentro, como se num estranho sonho todo o meu corpo se virasse do avesso e as entranhas se revelassem em todo o esplendor.
Hoje acordei tonta, enlouquecida pela luz.
Quando te aproximaste, a medo, vi-te desfocado e quando sentiste o meu cheiro foi como se não me reconhecesses e fugiste.
Fiquei fula e desorientada, vomitei aquilo que comi.
Tu foste embora enjoado.

Parou de chover e tu não voltaste. Deverás estar agora oculto no escuro e eu aqui tonta, desequilibrada e sem sentido para a vida.

(continua)

Sem comentários: