Interrogo-me sobre o lugar que queremos atribuir, na nossa vida, a determinadas pessoas que apenas vemos esporadicamente, mas que pela sua dimensão humana terão necessariamente que ser lembradas. Nesta ordem de ideias a Dona Eduarda é das pessoas mais curiosas que eu conheço. Digo curiosa, porque a sua forma de pensar e entender o mundo, me parece a mim, de uma outra dimensão, que me escapa de tão peculiar.
A Dona Eduarda terá uns sessenta e poucos anos, nasceu em Angola, onde conheceu um português, também ele muito peculiar. Muitos anos passados, vive em Portugal e grangeou em torno de si uma prole muito especial. Todos os anos vou a sua casa pelo Verão, a convite de um amigo e agora seu genro, comer o "Funge" e também todos os anos venho de lá encantado com a espiritualidade, poder de sedução e forte personalidade, daquela senhora simples e bem disposta. Os jantares são irrepetíveis, em particular quando se junta toda aquela família extrema a surprender-nos a todo o momento, com as histórias mais hilariantes, histórias de "partir o coco" a rir. O "Funge", um pitéu tipicamente angolano, é excelente, principalmente quando condimentado com uma dose extra de gindungo. A Dona Eduarda, sempre serena, no momento que lhe parece oportuno, o que não quer dizer que o seja, apresenta uma visão do mundo, uma visão especial e única. Aquilo que nos conta parece brotar de um saber ancestral, que me é desconhecido, uma espiritualidade que escapa aos cânones, onde nós, os Europeus, nos formamos e informamos. Do topo da sua simplicidade e humildade, fala das coisas mais sérias e também daquelas que o não são, com a vivacidade e o humor que tudo envolve e arrebata.
Traduzir a sua visão do mundo, seria o mesmo que contar em palavras, um sketch dos Monty Python. É tão diferente...
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