Aqui há uns dias interrogava-me acerca da questão interioridade/urbanidade a propósito de um post acerca da revista “Periférica”. Hoje chegou até mim e sem esforço um esboço de reflexão sobre o assunto.
Por razões profissionais e com enorme prazer, tive com alguns colegas de trabalho, um encontro com dois vultos da cultura portuguesa, respectivamente, Graça Morais e Pedro Caldeira Cabral. Tal encontro decorreu primeiro num agradabilíssimo almoço a que se seguiu um revelador encontro de Graça Morais com alunos da Escola Secundária João de Araújo Correia, no Peso da Régua. E digo revelador pois Graça Morais, igual a si mesma e à sua pintura falou aos alunos e respondeu às suas perguntas com a autenticidade que lhe é característica, na obra que eu já conhecia, e que agora se me revelou também no seu olhar e na personalidade afável e disponível que pude conhecer.
Posso dizer que conheço razoavelmente bem a obra da pintora, ao contrário da obra do músico e compositor Pedro Caldeira Cabral, reputado especialista em guitarra portuguesa e também ele com um percurso artístico notável.
Graça Morais é natural de Vieiro, uma aldeia trasmontana perto de Vila Flor e a sua obra é um excelente exemplo da relação que se pode estabelecer entre o cosmopolitismo e a ruralidade. Com uma já longa carreira e uma assinalável notoriadade, a sua obra desde sempre reflectiu esse microcosmos que é a sua aldeia natal, mas que numa visão mais alargada se pode considerar a visão de uma certa ruralidade nacional. Talvez não exista em Portugal exemplo tão feliz, profundo e intenso dessa interpretação antropológica do Portugal interior.
O traço de Graça Morais é forte, quase masculino, se é que os traços têm sexo, e terá na sua génese, a influência dos expressionismos do início de século, a multiplicação/fragmentação da realidade de um Picasso ou mesmo as transparências e realismo mágico de Francis Picabia.
Particularmente interessante foi o encontro com os adolescentes interessados em ouvir o que a artista tinha para dizer e para os quais Graça Morais se disponibilizou para responder a todas as perguntas que estes lhe colocaram. Não pude deixar de notar a humildade sábia de quem alcançou um lugar de destaque na arte portuguesa, o sorriso bonito e toda a disponibilidade do mundo, que é apanágio de quem fez uma boa construção existencial e não chegou lá por acaso.
2 comentários:
Apesar da generosidade não se anunciar, tão pouco pensando que o texto seja para agradar a Graça Morais, mas antes uma reflexão (bonita) sobre um momento com alguém, tenho a certeza que ela sorriria se o lesse.
Talvez com o mesmo sorriso bonito, talvez com a mesma humildade de quem é assim e não o é por acaso...
[na casa da arrecadação que ainda não esvaziei havia uma serigrafia dela...sempre me sorria aquela mulher no campo]
;)
paula.
Obrigado pela generosidade do comentário
Artur
Enviar um comentário