Hoje, acordei com uma uma visão inclinada de mim.
Fiquei atento no silêncio a tentar ouvir o sangue nas veias, mas desisti intimidado ao dar-me conta da precaridade de existir.
Tudo se complicou: eu quero ser eterno.
Mas o meu verdadeiro problema é acordar todos os dias inclinado.
Estou sempre seguramente dois ou três dias para me conseguir endireitar. Às vezes é um verdadeiro tormento.
Arranjei uma estaca, daquelas que se usam para manter os feijões "encaminhados". Foi uma sorte, assim descanso bastante a minha perna esquerda. Estava a sofrer muito da minha perna esquerda. Não fosse aquela ideia da estaca que o amigo Gonçalves me deu e...
De resto está tudo bem. Não tenho filhos, o empregozito é seguro e as pessoas fazem um esforço para gostar de mim.
Vou confessar-vos uma coisa... na realidade as pessoas não só gostam de mim como me adoram, não fazem outra coisa que não seja saber coisas acerca de mim. Tanto, que a minha mãe deixou de trabalhar, e agora passa os dias na mercearia da Mariazinha, a falar de mim, dos meus feitos, dos meus actos de bravura, da luta titânica que continuo a ter com a minha inclinação natural de acordar inclinado.
Para ser franco nem entendo esta obsessão que as pessoas têm por mim!
Tenho-me interrogado e cheguei à conclusão que a razão do meu sucesso existêncial é a minha inclinação natural para as coisas simples: o natal, a família, a integração social absoluta e claro, ver televisão na diagonal (literalmente).
2 comentários:
eheheheheh
Somos tão limitados que passamos a vida a medir a felicidade, a tristeza, o sucesso, a sabedoria, aquilo que somos, aquilo que não somos, isto e mais aquilo e não saimos da cepa torta. O que está a dar é curtir, sorrir, comer, beber, beijar, ouvir, abraçar, amar, falar, ler, ver, sentir... e esquecer a merda da medida que foram os burgueses que inventaram. Vivam os operários da vida que fazem e não tem tempo para medir porque a malta também precisa de descansar.
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