Gostava de histórias de amor e não conseguia evitar a lágrima ao canto do olho desajeitadamente disfarçada. Passava horas em frente à televisão, umas vezes enamorado pelo vazio, outras vezes a pensar em si mesmo.
Kerckhove disse no livro “A pele da cultura” que a televisão se direcciona primeiro ao corpo e só depois à mente – disse que a televisão age fisicamente com o espectador. Esta feliz conclusão não lhe terá escapado nas longas horas passadas em frente ao ecrã. Só uma ou outra mosca a zunir próxima aos ouvidos o tirava do sério. Baixava o som do televisor. Levantava-se e procurava uma almofada. Os seus sentidos estavam concentrados no ouvido que por sua vez agiam como sonares experimentados. Após várias tentativas falhadas, zás!
Voltava a sentar-se no sofá desconfortável. Uns velhos cadeirões da década de 60 que já ninguém queria e estendia-se todo enquanto aumentava o som do televisor. Por vezes fazia um pouco de zapping e ia-se deixando ficar em fragmentos de publicidade que anunciavam raparigas bonitas e de bem com a vida ou então modelos de comportamento social que só eram credíveis porque fazia-se a si mesmo o favor de não os pensar. Outras vezes adormecia por longos períodos de tempo e acordava com a sensação desconfortável de ter ficado sempre a dormir para o mesmo lado. Colocava a mão no pescoço e fazia gestos circulares com a cabeça. Puxava o corpo pelo sofá acima e mudava de canal.
Hoje acordou com sede e foi à cozinha beber um copo de água. Estava calor e a água gelada despertou-o. Eram por aí umas 8 da tarde e o sol estava a desaparecer no horizonte. Saíu para regar o jardim tal como o fazia religiosamente todos os dias de verão. Sentia uma espécie de hipnose a olhar o jacto de água a humedecer o chão e ficava feliz por ver crescer as ervas. Sentia-se responsável pelo bem estar das plantas e dos animais que viviam nas entranhas daquele pedaço de terra.
Tinham-lhe dito no dia anterior que era triste e tinha um humor irregular. Ele concordou enquanto fechava a torneira e se dirigia à sala para consultar o tele-texto.
5 comentários:
Não sei porque me acharam triste e com humor irregular...aliás, nunca mais voltei a esse estado depois de ter pisado a linha. lembras-te da linha? a verdade estava toda lá. nem os céus sabiam tanto da loucura. só tu...lá estavas, irrequieto e triste...como eu. e depois? apaguei a televisão.
Ass: "e no entanto"
Não sei porque me acharam triste e com humor irregular...aliás, nunca mais voltei a esse estado depois de ter pisado a linha. lembras-te da linha? a verdade estava toda lá. nem os céus sabiam tanto da loucura. só tu...lá estavas, irrequieto e triste...como eu. e depois? apaguei a televisão.
Ass: "e no entanto"
Não sei porque me acharam triste e com humor irregular...aliás, nunca mais voltei a esse estado depois de ter pisado a linha. lembras-te da linha? a verdade estava toda lá. nem os céus sabiam tanto da loucura. só tu...lá estavas, irrequieto e triste...como eu. e depois? apaguei a televisão.
Ass: "e no entanto"
tanta irritação anónima do "iluminado(a)" "e no entanto" põe-me a pensar!
...ou será que foi apenas eu que vi a tal "irritaçãozinha" do gánero "estes tipos" não têm mais nada para fazer, armam-se em escritores, mas não conseguem mais do que uma deprimente masturbação mental. Eu nem sei o que lhes passa pela cabeça!
...três passos acima da linha de água... claro!
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